sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Registos para memória futura: "Dias negros e um povo que luta"

Vão ficar os registos, pois há momentos que apesar de terríveis, não devem ser esquecidos.

Bem-haja a todos os que ajudaram nesta batalha!"

 

 

 

 



 

 


 



"Foi a 8 de Agosto, pelas 14h31, que este incêndio iniciou em Freches a sua corrida desenfreada em Direção a Norte. 

Sabíamos que se o vento continuasse a soprar de Sul, vinha ter à nossa Ribeirinha. E assim foi. Percorreu as várias freguesias que encontrava pela frente, visitou a Cidade de Trancoso onde decorria a Feira de São Bartolomeu, dirigiu-se por Castaíde e localidades à volta até encontrar a nossa Serra. Tentou  atravessá-la por Rio de Mel, passou rente a Palhais e dirigiu-se para os lados do Reboleiro e iluminou a serra até Sebadelhe. Ao mesmo tempo, lavrava por outras freguesia do concelho de Trancoso alargando a sua conquista até outros Concelhos. 

População residente, emigrantes de férias, vizinhos, amigos, bombeiros, GNR  e outras entidades estiveram todos na batalha. A prioridade eram as vidas, as casas e depois... os bens. 

 A frente que devorava a serra do Pisco, no dia 13, estendia-se desde Vila Novinha até Carapito. Durante a noite,  parecia arder lentamente e tudo estava aparentemente controlado, com tudo preparado à espera no sopé da montanha.

Na tarde do dia 14, com o aumento das temperaturas, pelas 13h30, houve um reacendimento na serra, perto do Reboleiro. Muitos ocorreram prontamente para o apagar, como já é costume, apesar do cansaço acumulado de dias e noites de luta constante. 

Mas foi dos lados da quinta do ferro que, pelas 14h30, surgiu inesperadamente, o monstro que galgou  em segundos por todos os lados, atingindo Palhais e Benvende.

 No cruzamento tomou várias direções, com o vento a alterar muito a sua direção. A velocidade e a força era tanta que depressa rodeava tudo em todos os lados, com múltiplas projeções em simultâneo. Não havia mãos para tudo...

Um Inferno Real, que transformou muito em cinzas e que não deixou só marcas na paisagem. Marcou quem esteve e quem não podia estar.

Seguiu em direção às povoações vizinhas, até se  unir ao incêndio que começou em Sátão, na zona do "Mosteiro da Ribeira", chegando a afetar 10 concelhos, apesar dos 1400 operacionais a combater as chamas. 

Os dias posteriores foram de fumo intenso (em especial durante a noite), de dificuldades em respirar, de voltar às máscaras, de lembrar a pandemia, de dormir aos pedaços, de sobressalto, de constante inquietação e de vigia pois continuavam os reacendimentos. Mas estamos todos vivos.

Agradeçamos pelas vidas, pelas casas e pelos pedaços verdes, que se salvaram, também graças à água disponível e ao trabalho de todos os que puderam estar presentes e que lutaram, lutam e continuarão a lutar até que este diabo desapareça sem deixar fumo e que se encontrem formas de não o voltarmos a ver. 

Que se melhore o que tiver que ser melhorado!"

 

(Texto de Natália Mestre para Memória Futura nos arquivos de " Palhais à Vista") 

 

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